2006-03-28

DER GELBE KLANG (o som amarelo)



As grandes correntes estéticas que vêm caracterizando as artes plásticas
foram igualmente adoptadas pela música, e senão literalmente, em alguns
casos até de forma muito difusa (Erik Satie é apontado como o único
compositor do Surrealismo, algo que, de qualquer modo, não é especialmente
evidente), o certo é que as linhas fundamentadoras de muitas tendências do
visual ganharam igualmente expressão na arte dos sons. Um exemplo imediato é
o interesse manifestado por Kandinsky pela música politonal e atonal de
Schoenberg, na qual ele encontrou preocupações semelhantes às que aplicava
nas suas telas. A correspondência entre ambos é esclarecedora, de resto,
quanto à simultaneidade das buscas encetadas nos dois domínios.

O próprio Wassily Kandinsky sentiu-se compelido a compor, e uma dessas
obras, destinada ao palco, chamou-se "Der Gelbe Klang" ("O Som Amarelo"),
nome que a Granular utiliza para identificar o ciclo de concertos proposto
ao Museu do Chiado. Hoje, verificamos que uma boa parte da música criativa é
feita por pessoas que tiveram formação em belas artes e que em simultâneo
desenvolvem actividade nessa disciplina. A produção de som por artistas
visuais definiu mesmo um novo rumo nas novas práticas nascidas com o século
XX, razão suficiente para procurarmos interrogar o que na música há por
estes dias de influência plástica ou de filiação estética coincidente. E as
referências são, de facto, muitas, indo de reminiscências do Romantismo,
ainda muito presente, por exemplo, na música improvisada, a correntes como o
Futurismo, génese da "noise music", o Dada, reflectido sobretudo no trabalho
vocal por via das pesquisas fonéticas de Kurt Schwitters, o movimento
Fluxus, inspirador da generalidade dos investimentos mais experimentais, ou
o Minimalismo, que vem influenciando a electrónica.

No seu poema "An Anna Blume", Schwitters refere-se mesmo aos "vinte sete
sentidos" da sensorialidade, e é isso que está em questão neste tempo de
derrube das fronteiras entre as artes. Não há nichos criativos, apenas
diferentes campos de acção artística que cada vez mais se encontram. DER
GELBE KLANG propõe-se mostrar como, colocando em evidência o que estava
apenas implícito...

Museu do Chiado – Museu Nacional de Arte Contemporânea
Rua Serpa Pinto, 4 Lisboa
Produção: Granular (apoio Museu do Chiado)
De Março a Outubro de 2006
19h00
Bilhetes: 5 euros (2,5 euros para Restart, CEM, Sociedade Guilherme Cossoul;
grátis para associados Granular)

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